Tomé Carvalho

Reflexões da Dupla Vida de Tomé Carvalho 


O livro Reflexões da Dupla Vida de Tomé Carvalho traz o pseudo-autor/narrador Tomé Carvalho que conta sua vida de forma descontraída e reflexiva. Com um senso crítico afiado e por muitas vezes incômodo aos ouvidos mais sensíveis, Tomé Carvalho leva o leitor numa jornada inusitada por sua própria vida, pilheriando consigo próprio e dando margem a apontamentos descarados sobre o gênero humano. Abaixo a introdução do livro:

                                                                 

                                                             Nota ao leitor


"Em tempo, é preciso alertar os leitores que, por ingenuidade ou audácia, abriram estas páginas antigas e já esquecidas nas Memórias do Mundo. Não é praxe falar-lhes francamente como faço agora, mas que se dane. Este livro não é de praxe, não é sequer livro; antes um compêndio de casos que obra; uma enciclopédia sobre eu mesmo, por assim dizer, ou sobre nós, já que sou dois que desconfiam ser multidão.

Não somos corajosos como Dante ao caminhar os Círculos do Inferno e relatar o ocorrido aos da época, tampouco possuímos o atrevimento do Brás Cubas que morreu e ousou falar aos vivos; não há em nós a ferocidade do mito de Beren que, intrépido, socou as portas do Escuro e trouxe consigo a Joia mesmo deixando uma mão como paga, tal como não vergamos nos ombros a potência do espírito de Guilliat, o Marinheiro; não reescrevemos nosso destino como o fez Tunes, ou sequer desafiamos gigantes imaginários tal qual Dom Quixote. Não, prezado leitor, você – se nos permite a intimidade -, você que nos acompanha merece desde já a verdade sobre o que lerão.
E esta é a verdade: somos vivos; estamos vivos e respiramos tal como todo ser dito vivente. Contudo, vivi duas vidas em uma, ou uma vida em duas, conforme o que preferir pressupor, e resolvi relatar estes fatos sem motivo aparente. Lá no fundo, todavia, sei de mim e de nós, e que a razão para estes relatos é a severa vontade de que se investigue logo após; pois quem sabe? Talvez não seja eu o único a ser dois, e talvez você, caro leitor, seja tanto menos singular do que plural..."
          
                                                                                                     - Tomé Carvalho 



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